Os pais da menina Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, falaram pela primeira vez desde a morte da menina, baleada por um policial militar no último sábado, no Rio de Janeiro. Os dois foram ao Encontro com Fátima Bernardes, da TV Globo, nesta terça-feira (24) e contaram como Ágatha foi atingida pelo tiro no Complexo do Alemão.
Leia também: Caso Ágatha: PMs são ouvidos como testemunhas da morte, diz delegado
Vanessa Sales e Adegilson Lima estavam bastante emocionados e a fala deles foi em meio a muitas lágrimas o tempo todo. As primeira palavras de Vanessa, que estava com a filha quando ela foi baleada nas costas, foi sobre o momento em que a menina foi atingida. Ela contou que havia cerca de oito pessoas na kombi em que elas estavam até que seis delas desceram no local onde Ágatha foi baleada.
"Quando coloquei ela do meu lado, (ouvi) o barulho muito forte. E ela 'mãe, mãe, mãe...' e eu 'calma, filha, já passou'", Vanessa relembra.
Vanessa disse que naquele momento não percebeu que a menina tinha sido baleada. Ela disse que as duas ficaram abaixadas após ouvir o barulho de tiro até que percebeu que Ágatha não se mexia na kombi.
"Eu vi um buraco... não estava acreditando no que tava acontecendo na minha vida naquele momento... eu não estava acreditando porque minha filha era perfeita, desenhava, era estudiosa, obediente, me obedecia... eu admirava a obediência dela", afirma.
De acordo com a mãe de Ágatha, quando foi percebido que a menina estava baleada, ela foi levada rapidamente à UPA do Alemão. Chegando lá, um policial militar a pegou e a levou correndo ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha, onde a menina morreu na madrugada de sábado.
"Chegando na porta do hospital pra tirar ela, ela deu dois suspiros... (eu disse) 'fica com a mamãe, a mamãe tá aqui'. Pegaram ela, correram... a minha lágrima não saia. Não saia lágrima nenhuma. Eu não tava acreditando no que tava acontecendo. O que eu mais temia, do que a gente mais se escondia para não acontecer, aconteceu", disse, bastante emocionada.
Vanessa também relembrou de dia em que ela e a filha se protegeram de um tiroteio no Alemão dentro do boxe do banheiro de casa. Ela disse que ficou com a menina durante muito tempo, enroladas em um edredom. Ela e o marido ainda contaram que sempre moraram no conjunto de favelas da Zona Norte do Rio e como sobreviviam em meio aos confrontos na região.
Aos prantos, o pai da menina fez um desabado antes de deixar o palco do programa. "Governador, muda essa política de atirar. Porque o que aconteceu com a minha filha, pode acontecer com outras pessoas também", Adegilson pediu.
Desde o dia do crime, a família de Ágatha contesta a versão dada pela Polícia Militar de que no momento em que a menina foi atingida, agentes da UPP Fazendinha foram atacados por criminosos da região. De acordo com os parentes da criança, os policiais atiraram contra pessoas que estavam em uma moto suspeita, quando a atingiram.
Leia também: Dilma relaciona morte da menina Ágatha ao pacote anticrime de Moro
Na tarde desta segunda, o governador Wilson Witzel (PSC) se pronunciou sobre a morte da menina. Ele lamentou o caso e defendeu a política de segurança do estado.